Edificio B, Juizo 2, Piso 5
Mais info: https://www.sosracismo.pt/
Campanha:
Chamar os Bois pelos Nomes!
Um é ativista comprometido com os direitos humanos e as lutas fundamentais pela igualdade. O outro promove há décadas o ódio e a violência. Um é uma voz ativa no debate público sobre as origens e a realidade da discriminação racial, o outro foi condenado repetidamente pelos tribunais por coação agravada, posse ilegal de armas, ofensa à integridade física qualificada, discriminação racial, difamação, sequestro e extorsão. Um é negro e orgulha-se das suas origens, o outro acha que africanos são macacos e brinca com um jogo em que a cara do primeiro é o alvo.
Um tem a coragem de chamar pelo nome quem é cúmplice, orquestra, incita ou enquadra um assassinato. O outro – o tal que orquestra, incita, manda e enquadra crimes de ódio há décadas – diz-se difamado. Um está acusado pelo Ministério Público e pelo juiz de instrução por ofender a honra do outro. O outro ri-se com a manifesta deferência judicial perante os seus argumentos.
Um é Mamadou Ba, o outro é Mário Machado.
Somos pessoas que não podem ficar caladas face às iniciativas que tentam transformar o antirracismo e ativistas antirracistas em inimigos da democracia, sentando no banco dos réus Mamadou Ba. O Estado e as suas instituições não podem ser mobilizados para silenciar a defesa da dignidade e da democracia para premiar a violência e o racismo.
Aqui continuamos, pessoas de proveniências variadas e diferentes gerações que não suportam o racismo nem as suas formas de violência, declaradas ou subtis. Não criámos perfis automáticos. Cada um/a de nós é uma pessoa de carne e osso que não pode ficar calada neste tempo em que o racismo se normaliza no espaço público e a discriminação e violência encontram adeptos e ganham força no silêncio das pessoas decentes.
via: https://emcarneeosso.com/
“Quando há discriminação racial, não há democracia” Entrevista com Mamadou Ba
2023/05/03
No dia 1 de maio entrevistamos Mamadou Ba, importante ativista anti-racista sobre o Julgamento no qual este é acusado pelo Neo-Nazi Mário Machado de “difamação”.
“Eu acho que este processo como todos os outros em que estou envolvido, não tem a ver comigo pessoalmente, mas tem a ver apenas com aquilo que eu represento no imaginário da extrema direita e da direita reacionaria, que é colocar o antiracismo no banco dos réus, com dois objectivos principais:
O primeiro é o de silenciar qualquer hipótese de criação de uma alternativa a uma sociedade racista, colonialista, machista, homófoba, xenófoba… é disso que se trata, portanto, é silenciar uma proposta alternativa de um antirracismo consequente.
A segunda é intimidar, restringir, acantonar a possibilidade dessa luta alargar e tomar dimensões mais transversais. Por exemplo, estamos no primeiro de maio. O primeiro de maio é absolutamente crucial para percebermos aquilo que nós no jargão do antirracismo chamamos da linha da cor. Porque é que há trabalhadores racializados, que sofrem maior exploração laboral por exemplo na área da agricultura, da construção civil, da restauração… porque efetivamente há um racismo estrutural que permeia as relações económicas, políticas na nossa sociedade.
Portanto o primeiro de maio e o 25 de abril são datas absolutamente cruciais para nós voltarmos a afirmar a necessidade de descolonizar, desenvolver e democratizar. Porque não há democracia onde parte da sociedade está menorizada, excluída, marginalizada… Isto não é democracia. Não há desenvolvimento enquanto uma parte da sociedade não tem condições de vida. E muito menos desenvolvimento quando há pessoas que estão excluídas, marginalizadas em função da sua pertença étnico-racial ou da sua pertença religiosa.
Quando há discriminação racial, quando há discriminação tout court não há democracia, não há desenvolvimento, não há descolonização.
Portanto, para mim, o que é importante discutirmos cada vez mais é como é que nós vamos ter um programa antirracista articulado com um programa anti-capitalista. Para rompermos com o cerco que a direita e a extrema-direita pretendem fazer ao antirracismo político.
O problema, é, aliás, a estratégia da extrema direita é: a intimidação, o cerco, o acantonamento, o isolamento. E é preciso nós resistirmos a isso. Toda a estratégia da extrema direita tem sido usar as ferramentas institucionais, nomeadamente os tribunais, as forças de segurança para chantagear, exercer uma pressão contra o ativismo antirracista, e todos os outros ativismos que possam criar uma alternativa política ao atual sistema.
Mas eu acho que a resposta também tem sido boa, a nossa capacidade de mobilização, a solidariedade que se tem visto um pouco por todo o país, mostra que há um alargamento da consciência coletiva sobre a necessidade de nós, não só construirmos um cordão sanitário à volta das instituições, defendermos a democracia. Defender a democracia é estarmos sempre do lado, e em pé, do lado de quem resiste, de quem luta e quem combate a extrema direita, as forças reacionárias, que estão a ganhar mais agressividade porque encontraram através do Chega, uma via verde no parlamento. O Chega tornou-se o megafone do racismo mas larvar, mais reacionário. Ou seja há uma legitimação cada vez maior através da disputa democrática com o Chega e outras forças reacionárias e é contra isso que nós temos de nos posicionar, é sobre isso que temos de lutar e construir alternativas. E é com todas estas pessoas que querem colocar termo ao avanço do neoliberalismo racista, machista, neo-colonial que nos temos de organizar cada vez mais, e é por isso que nós estamos aqui.”
Entrevista via: RCINFO
https://rcinfo.noblogs.org/acusam-um-respondemos-todes-mamadou-ba/