Zona de Contacto - Protagonismos femininos na pesquisa contemporânea: perspectivas a partir da antropologia
Zona de Contacto - Protagonismos femininos na pesquisa contemporânea: perspectivas a partir da antropologia
5 months ago
Casa do Comun
Rua da Rosa 285, Bairro Alto, Lisboa

E vem aí a próxima Zona de Contacto...
Dia 3 de Julho na Casa do Comum com 4 mulheres incríveis que bem representam o protagonismo feminino na pesquisa contemporânea em Antropologia.

Protagonismos femininos na pesquisa contemporânea: perspectivas a partir da antropologia
com Francy Baniwa (PPGAS-MN/UFRJ, IEA/USP), Julia Sá Earp (PPGSA-IFCS/UFRJ), Paula Lacerda (PPCIS/UERJ), Zoy Anastassakis (PPDESDI/UERJ)
(moderação: Paulo Raposo ISCTE/CRIA-In2Past)

Francy Baniwa
Sempre tive um grande desejo de escrever sobre a importância das mulheres indígenas e seus conhecimentos. No projeto do Museu do índio conduzi uma pesquisa de documentação com as mulheres de meu próprio povo. Algo que possibilitou um diálogo profundo com o universo feminino e suas relações de intimidade com a floresta. Por meio de um “olhar de dentro para fora”, meu objetivo foi valorizar a importância dos nossos próprios conhecimentos. São as mulheres indígenas que têm sido as principais transmissoras dos conhecimentos de tradição oral. Este trabalho reafirma a importância do patrimônio cultural, material e imaterial, de nosso modo de vida coletivo, contribuindo para a documentação das narrativas feitas por mulheres, que são as protagonistas e donas de roças e de suas próprias histórias.

minibio
Francy Baniwa (1986) pertence ao povo Medzeniako, mais conhecido como Baniwa, e é nascida na comunidade de Assunção do Içana, na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira (AM). É mãe, agricultora, antropóloga, escritora, fotógrafa e cineasta, engajada há mais de uma década nas organizações e no movimento indígena desde o Rio Negro. Trabalha e pesquisa nas áreas de etnologia indígena, gênero, agrobiodiversidade, ecologia amazônica, mitologia, conhecimentos tradicionais, fotografia e audiovisual. É graduada em Bacharelado e Licenciatura em Sociologia (2016) pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). É mestra em Antropologia Social (2019) pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/MN-UFRJ) e doutoranda na mesma instituição.

Julia Sá Earp
A presente pesquisa é um estudo sobre as transformações políticas e estéticas entre as mulheres mẽbêngôkre (kayapó), analisadas através de imagens e encontros, em um percurso de pesquisa na interseção dos campos da antropologia, da arquitetura e do design. Seus kikrés (casas), seus kuben-kà-kumrej (vestidos), assim como seus facões recebem a atenção desta pesquisa a partir do projeto de Casa de Costura da liderança kayapó Tuíre. Assim, o gesto do facão, e o gesto de Tuíre são desdobradas com a intenção de compreendermos esses gestos como propulsores de outros gestos e caminhos protagonizados por mulheres indígenas. Linhas de uma urdidura interessante para pensarmos com e entre as mulheres mẽbêngôkre. De forma paralela a este objetivo central, a tese lida com outra transformação no campo da etnologia e da antropologia: as abordagens femininas e feministas, elaboradas por antropólogas que buscam trabalhar questões relacionadas às perspectivas das mulheres em seus campos. Considerando um contexto mais amplo em que se inserem tais movimentos, o trabalho procura situar, de forma mais específica, a virada nas leituras antropológicas femininas sobre a relevância das mulheres mẽbêngôkre para o conjunto das organizações sociais kayapó, sobretudo a partir dos anos 1990.

mini bio
Julia Sá Earp é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia pelo IFCS-UFRJ. Possui mestrado em Arquitetura e Urbanismo (2017) pela PUC-rio e graduação em Design (2012) pela mesma instituição. É pesquisadora associada ao LADA, Esdi/UERJ, e ao laboratório NEXTimagem (PPGSA/UFRJ). Atualmente desenvolve sua pesquisa sobre a produção estética e política das mulheres mẽbêngôkre.

Paula Lacerda
Pensar mobilização social na Amazônia, tema ao qual eu me dedico há mais de quinze anos, implica necessariamente em pensar a agência de mulheres nesse processo. Historicamente, a região da transamazônica recebeu famílias do Nordeste e de outras regiões do país atraídas pela promessa de terras e fartura como constava na propaganda dos governos militares desde a década de 1970. A escassez ou a ausência absoluta de serviços públicos (educação, saúde, saneamento básico, assistência agrícola, mobilidade urbana) fez com que as mulheres se envolvessem em protestos e em outras formas de atuação política em busca de seus “direitos”. A noção de “direitos” esteve mediada pela compreensão dos religiosos católicos que as apoiavam, ligados à Teologia da Libertação. A experiência na mobilização social e os coletivos que foram então formados na região forneceram as bases para outras ações políticas que se fizeram necessárias em face de outros projetos implementados na região, considerados “projetos de desenvolvimento”, como a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, o deslocamento compulsório de cerca de 25% da população, a implantação da mineradora Belo Sun. As interlocutoras da pesquisa, ao longo de mais de quatro décadas de mobilização política na região, recriaram suas formas de agir e de pensar em função da própria transformação da ação estatal na região, mas também em função de suas famílias e de seu próprio processo de envelhecimento. A pesquisa propõe pensar a relação entre processos de estado e subjetividades, envolvendo gênero, família e envelhecimento.

minibio
Paula Lacerda é doutora em Antropologia, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Brasil), co-realizadora do CAMPO podcast. Há cerca de 15 anos realiza pesquisa na região da Transamazônica, especialmente no interior do Pará, a respeito de mobilização social, gênero e processos de estado. Sua pesquisa mais atual visa compreender como as políticas de reparação em situações de violações de direitos humanos estão sendo postas em prática no Brasil contemporâneo e, em especial, na região Amazônica.

Zoy Anastassakis
Em 2017, no Laboratório de Design e Antropologia, criamos o projeto de extensão “Correspondências”, que convida pesquisadores e artistas indígenas a visitar a Esdi, se correspondendo com estudantes e professores. Naquele mesmo ano, no âmbito da pesquisa de doutoramento de Ilana Paterman Brasil, em parceria com Makota Arrungindala, mulher candomblecista, realizamos o filme “Acolhimento”. Mais recentemente, o projeto “Correspondências” ampliou seu escopo, convidando, também, mulheres quilombolas e de terreiro a atuar como parceiras visitantes do projeto. Nesta apresentação, discuto as implicações da escolha dos termos correspondência e acolhimento para aquilo que praticamos, em parceria com algumas mulheres, tais como Makota Arrugindala, Francy Baniwa e Marlene Medrado, nos âmbitos da pesquisa, da extensão, e de uma antropologia praticada por meios de design. Aqui, interessa perceber como a pesquisa e a extensão se dão por meio de práticas de correspondência em que, mais do que algum resultado concreto, interessa cultivar e manter relações de acolhimento e cuidado.

minibio
Bacharel em Design, com mestrado e doutorado em Antropologia. Professora adjunta da Escola Superior de Desenho Industrial, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde coordena o grupo de pesquisa “Laboratório de Design e Antropologia”. Foi diretora da Esdi entre 2016 e 2018, e agora, novamente, a partir de março de 2024. Em 2017, participou, como pesquisadora visitante, do projeto “Knowing from the inside: Anthropology, Art, Architecture and Design”, liderado por Tim Ingold no Departamento de Antropologia, Universidade de Aberdeen, Escócia. Entre 2019 e 2020, realizou pesquisa de pós-doutorado no Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), em Lisboa, Portugal. Desde 2017, coordena o projeto de extensão “Correspondências”, que convida pesquisadores e artistas indígenas a visitar a Esdi.